Você já se sentiu preso em uma situação confortável, mas insatisfatória ? Ouvi uma citação de Neale Donald Walsch - “A vida começa no fim da sua zona de conforto” que me fez lembrar da história de um amigo meu, o Zé.
Faz tempo que o Zé reclama comigo do emprego dele, há oito anos ele trabalha no mesmo lugar mas de dois anos pra cá nada está bom, ora reclamava que trabalhava demais, ora que não era valorizado, mas, falando a verdade, o Zé é acomodado demais. Prefere o meia boca certo ao bom incerto como quem está em um relacionamento tóxico: vive reclamando, mas não larga o osso.
Apesar dessa acomodação, com essa coisa de ano novo o Zé decidiu que queria mesmo era arrumar outro emprego e começou a se movimentar, acionar sua rede de contatos, se candidatar às vagas do Linkedin e enviar currículos, mas toda vez que o Zé vinha me contar eu já logo via que havia um problema.
O problema era que o Zé QUERIA arrumar um novo emprego, ele não PRECISAVA. Ele ganhava bem no emprego que estava e o pessoal lá gostava do trabalho dele. Toda vez que conversávamos, sentia seu objetivo de trocar de emprego esfriar. Ele chegou a desistir de uma vaga porque o formulário de candidatura era muito grande. No Linkedin, só buscava vagas com “Candidatura Simplificada”. Pra mim já estava certo que o Zé ia se aposentar naquela empresa, ele estava acomodado na sua zona de conforto. Isso me fez entender com mais clareza o ditado popular:
A zona de conforto é um lugar lindo, mas nada cresce lá
Um dia o Zé teve uma situação de trabalho que deixou ele muito chateado e veio me contar dizendo o seguinte: “Realmente não tem condições de eu continuar lá, pra mim já deu, eu PRECISO arrumar outro emprego!” Agora a situação tinha mudado, ele PRECISAVA, nunca vi alguém preencher formulários com tanta sagacidade, a necessidade transformou o desejo em ação.
Isso aconteceu há uns 10 dias atrás e eu queria dizer que o Zé continua empenhado no seu objetivo mas não foi isso que aconteceu, a necessidade dele era abastecida por um combustível que queima rápido demais: a raiva. Ele continua quietinho lá na zona de conforto dele assim como estava antes.
Pra te falar bem a verdade, entendo o Zé, eu particularmente não sou contra a zona de conforto, adoro uma estabilidade e na zona de conforto estabilidade é o cobertor que te aquece e a segurança o travesseiro que ampara sua cabeça, é um excelente lugar pra recarregar as energias depois de um período mais conturbado, sabe quando você deita no sofá e acha a posição perfeita ? É, a gente só quer ficar ali quietinho sem ninguém incomodar, mas com o tempo o corpo começa a doer, o corpo pede movimento.
Tem uma música da Kell Smith que diz o seguinte:
A vida é como andar de bicicleta, pra se equilibrar exige movimento
Engraçado, o equilíbrio exige movimento e energia. A zona de conforto é ótima para recarregar, mas falta movimento... A solução é revezar entre repouso e movimento. O problema é a inércia.
Inércia é por definição a propriedade da matéria que faz com que um corpo resista a mudanças em seu estado de movimento ou repouso. Em outras palavras, um corpo tende a permanecer em seu estado atual, seja ele parado ou em movimento, a menos que uma força externa atue sobre ele.
É difícil sair da zona de conforto, mas saber a hora de frear a bicicleta quando estamos embalados também é. O Zé é exemplo disso. Hoje parece confortável, mas eu lembro dele à uns 6 anos atrás quando era relativamente novo na empresa, Trabalhou muito pra chegar onde está, era engajado, sempre em um novo projeto ou desafio, não negava nada, até a ansiedade se manifestar e ele PRECISAR parar e consultar um psiquiatra, até hoje toma ansiolítico.
A força externa que nos move entre a zona de conforto e o desenvolvimento é a necessidade, ela é comum a todos, mas então porque uns se movimentam e outros não ? Talvez a diferença esteja na origem dessa necessidade, sentimentos efêmeros como a raiva não funcionam.
Talvez a pergunta que o Zé deva se fazer é: “Que sentimento me move ?”. E você ? qual sentimento de move ? A jornada para descobrir o que nos move pode ser desafiadora, mas é essencial para encontrar o equilíbrio e seguir em frente.
