Somos feitos de poeira de estrelas

Um convite a refletir sobre a beleza do comum e do corriqueiro em contraposição à busca incessante pelo  extraordinário.

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Rodrigo Moura
Publicado em
4 min de leitura
7
Somos feitos de poeira de estrelas

Esses dias, estava ouvindo um podcast sobre inteligência artificial que me fez pensar sobre o quanto ficamos maravilhados por feitos da IA que nós fazemos de forma muito mais eficiente, enquanto nos julgamos sempre insuficientes, aplaudimos de pé uma inteligência treinada para se assemelhar a nós.

Para chegar perto de responder como nós, são necessários data centers com milhares de dezenas de metros quadrados, enquanto em média, o cérebro humano tem 1.250 cm³. Mais de 10 milhões de litros de água são usados por dia para resfriar essa estrutura gigantesca, nós não precisamos esquentar a cabeça se tomarmos por volta de 2,5 l de água diariamente. E, dale infraestrutura de cabos, fontes de energia, racks e sei lá mais o que pra manter tudo funcionando em uma fração do jeito que eu, pesando 70 kg muito bem distribuídos em 1,70 m funciono.

Eu não quero dizer aqui que a inteligência artificial não é nada demais, ela é magnífica, consegue trazer respostas sobre uma infinidade de assuntos de forma rápida e direta, isso definitivamente é um facilitador nas nossas vidas, meu ponto é que precisamos também valorizar o quão magnífico é ser humano.

Ser humano como eu e você, e não como a Beyoncé ganhando o grammy 2025 ou gênios meio malucos que lançam foguetes que dão ré, estou falando de respirar fundo sentindo o fluxo de ar entrar pelo nariz e percorrer seu caminho até encher nosso peito e barriga e perceber como é incrível termos a capacidade de nos conectar com o mundo a nossa volta através da respiração transformando oxigênio em energia.

Falo sobre tocar de leve o nosso rosto e sentir a textura e temperatura da pele, de correr os dedos pelo braço pensando em como é divino que esse órgão além de nos proteger de agentes externos, regular a nossa temperatura e produzir vitamina D ainda nos permite perceber sentir amor e prazer através do toque.

Pensar sobre isso me lembra de uma cena do filme “Soul” quando uma das personagem conta uma história pro Joe, o personagem principal que está em busca do seu propósito, a história é a seguinte:

Um peixinho vai até um peixe mais velho e pergunta: "Onde está o oceano?". O peixe mais velho responde: "Você já está no oceano". O peixinho, confuso, retruca: "Não, isso aqui é só água. Eu quero o oceano de verdade"

Essa história é a triste realidade da humanidade de hoje, dopada pelo digital em pequenas doses de vídeos de 3 minutos fixando seu olhar a um extraordinário, muitas vezes falso, nos impedindo de admirar a beleza do comum e do corriqueiro. Idolatramos o artificial e desvalorizamos conexões verdadeiras advindas do privilégio de sermos humanos.

No mesmo sentido que a história contada na animação da Disney eu li no livro “Quando as coisas não saem como você espera” de Haemin Sunim a história de um peixe que cresceu em meio a uma comunidade que sempre rezava para uma entidade superior chamada oceano e ouviu da sua avó que o oceano poderia ser encontrado atravessando a caverna da morte, mas que nenhum peixe que tentou atravessar tinha voltado de lá, quando mais velho esse peixe decide sair em uma jornada em busca do oceano e encontra a caverna da morte, ao que ele entrou e começou a nadar pela caverna, foi tomado por uma escuridão e silêncio que o amedrontaram de início mas logo se mostram acalentadores. Ele percebeu um ponto de luz indicando o fim da caverna que o fez pensar que finalmente ia conhecer o oceano mas antes de sair, cercado pela escuridão e o silêncio ele percebeu que sempre esteve no oceano e que o oceano estava nele, quando saiu da caverna e viu os cardumes de peixes nadando, tudo continuava igual mas surpreendentemente diferente.

Assim como todos os peixes dessa história estão conectados pelo oceano, o mesmo ar que perpassa a árvore que eu vejo pela janela da minha sala enquanto escrevo e a faz balançar, que entra pela janela e bate no meu rosto é o mesmo ar que você respira e se transforma em energia enquanto lê esse texto. O ato de respirar é simples e corriqueiro ao mesmo tempo que é extraordinário e nos mostra que estamos todos conectados não só entre seres humanos mas com todo o universo, afinal somos feitos dos mesmos elementos, como disse Carl Sagan - Somos feitos de poeira de estrelas.

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